Diretrizes Curriculares

Tratar da questão das diretrizes curriculares representa a definição do projeto político pedagógico dos cursos. Nenhum projeto de educação é desprovido de uma definição política de sociedade, de educação, de cidadania.

Uma proposta curricular deve se questionar sobre os objetivos do curso de formação, buscando uma maior articulação entre teoria e prática, garantindo a interdisciplinaridade assim como reconhecer, identificar e respeitar as diferenças de seus alunos, sistematizar os saberes pedagógicos de modo a facilitar o processo ensino e aprendizagem, incentivar a pesquisa em prol da construção social, direcionando sempre para ações crítico transformadoras. Dando ênfase as questões político-sociais do processo de formação para a superação das barreiras impostas pelo sistema capitalista que privilegia uma minoria em detrimento a exploração/alienação da grande maioria.

 ¿ BACHARELADO OU LICENCIATURA ?

 

“Os Bacharéis podem trabalhar em todos os lugares e os licenciados só na escola.”

 

“A Licenciatura é só para a escola, e eu não quero ir para a escola, por isso decidi fazer bacharelado em Educação Física.”

 

“Quero trabalhar com outras áreas, da pesquisa ou academia e a Licenciatura não me contempla”

 

Ouvimos muito essas frases no dia a dia, dialogando com os estudantes. Elas são reflexo da falta de informação e mentiras que são espalhadas no campo da Educação Física. O principal agente semeador dessas mentiras é o sistema CONFEF/CREF, que se utiliza da desinformação de muitas pessoas, pois na verdade quem pode atuar em todas as áreas (escolares e não escolares) são os licenciados. Para melhor entender isso é bom ler o parecer nº400/05 do CNE.

 

Na verdade a formação que restringe, segundo as legislações atuais, é a formação em bacharelado, pois com esse título não podemos dar aula nas escolas. E a licenciatura pode dar aula em todos os lugares, fora e dentro da escola. Pelo menos por enquanto.

 

Hoje temos Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Graduação em educação física (bacharelados e licenciaturas são orientados por essas diretrizes, lançadas em 2004) e Diretrizes Curriculares Nacionais para todas as licenciaturas. O que acontece é que a maioria dos cursos (e isso é importante: é a maioria, mas não são todos) de Licenciatura em Educação Física são orientados pelas diretrizes só das licenciaturas, o que acaba direcionando a formação da licenciatura só para a escola. O que é um erro, pois deveríamos tem uma formação integral. E os cursos de bacharelado em educação física seguem as diretrizes das graduações em educação física (podendo ter muitas graduações, em fitness, lazer, esporte...), o que limita a formação desses estudantes as áreas não escolares.

 

Nossa formação está numa situação tão precária, que nem os estudantes da licenciatura e nem os do bacharelado tem uma boa formação, que traga elementos para sua prática pedagógica. Fazemos parte de uma área que se diversifica, mas que não deve fragmentar o que lhe dá sustentação, a base: a intervenção pedagógica. Antes de sermos técnicos, instrutoras, treinadores, somos fundamentalmente professoras e professores. Reconhecer esse fato significa entender que onde estivermos atuando, estaremos com certeza trabalhando com a formação humana, através e com as especificidades de nossa área, tratando pedagogicamente os temas da cultura corporal, seja no clube, na escola, na academia, no hospital, no hotel, na praça.

 

O que temos hoje na maioria das escolas é uma formação fragmentada, direcionada para um campo de trabalho mais específico, ao invés de uma formação mais completa, que proporcione uma visão mais ampla sobre nossa área de atuação. E você, estudante, que entrou na universidade já sofrendo os efeitos dessa divisão... será que não pode fazer nada??? Afinal, o curso já está dividido mesmo, o jeito é se conformar, certo? ERRADO!!! Há muito que se fazer para mudar isso. Apesar de burocraticamente divididos, podemos agir em conjunto para mudar esse quadro. Unificar a batalha para reverter essas Diretrizes Curriculares que resultam nessa divisão, e lutar por uma formação mais ampla.

 

Por isso o Movimento Estudantil de Educação Física está em campanha pela revogação dessas atuais Diretrizes Curriculares Nacionais.

 

Defendemos uma formação única em educação física, essa divisão entre licenciatura e bacharelado nunca se justificou e depois de seis anos de aprovação e implementação das atuais Diretrizes Curriculares Nacionais concluímos que os problemas da área aumentaram. Essas DCN possibilitam uma fragmentação cada vez maior na formação em educação física, pois abrem brechas para a existência de cursos de bacharelados em fitness, bacharelado em esporte, bacharelado em lazer e recreação... ou seja, cada vez mais especificando a formação que deveria ser ampla e completa.

 

E mais consequências ruins podem vir sobre nós. Não é de se duvidar que o sistema CONFEF/CREFs consiga num futuro próximo barrar a entrada dos licenciados em Educação Física na educação informal, ou seja, nos espaços fora da escola. Devemos ficar atentos para esse possível ataque.  

 

O que a maioria de nossos professores esquece de nos dizer, é que uma formação ampla é o mínimo necessário para nos garantir alguma possibilidade de trabalho quando sairmos da Universidade. Num mundo do trabalho cada vez mais precário, a formação específica encurta nossa entrada no desemprego. Isso significa que tanto a curto prazo, com a dificuldade de conseguir trabalho quando nos formamos, quando a médio e longo prazo, com a dificuldade de entendermos a cultura corporal em sua totalidade e intervirmos de forma mais coerente na formação das pessoas, essa divisão é um erro, e dos grandes.

 

Lutemos por uma formação ampliada. Pelo fim da divisão na formação em Educação Física.

10 motivos para ser a favor da Licenciatura Ampliada

 

1

Formação ampla para atuação nos demais âmbitos de nosso campo de trabalho: é o que esta proposta pauta, pois vivemos em uma sociedade onde o mercado de trabalho é instável e vive em constante mudança. Se nos especializarmos precocemente, como impõe nossa formação hoje, não conseguiremos atender nossas necessidades básicas de sobrevivência, por isso uma formação que dê condições de trabalharmos com a área em diferentes contextos nos dará uma maior garantia de atuação e de condições de trabalho;

 

2

Sólida base científica: hoje não temos uma base epistemológica que nos permita trabalhar os diferentes conteúdos da Educação Física em diferentes realidades. Por isso, necessitamos de uma sólida base teórica que articule conhecimentos oriundos das ciências humanas, sociais, da saúde, exatas e da terra, da arte e da filosofia balizando assim nossa prática pedagógica (seja na escola ou fora dela) e uma ação consistente em nossos locais de trabalho;

 

3

  Cultura Corporal como objeto de estudo: para além de termos uma consistente base teórica, é necessário que tenhamos um objeto de estudo bem estruturado e fundamentado, o que não é visto hoje. Por isso, apontamos a cultura corporal como objeto de estudo, pois ela possibilita a compreensão da área de conhecimento de que trata a educação física e fundamenta-se nas diferentes manifestações da cultura corporal construída socialmente e acumulada historicamente pela humanidade a partir da relação do homem com a natureza, com o trabalho e com os outros homens, possibilitando uma compreensão ampliada do que entendemos por educação física; 

 

4

Unidade entre teoria e prática: hoje nossos currículos não articulam a teoria com a prática. Vivenciamos na sala de aula locais de atuação imaginários que se diferem da realidade. Isso ocorre devido a não existência de um eixo articulador dos conhecimentos do curso que permita a confrontação entre os conteúdos vistos em sala de aula e a sua relação com a prática pedagógica do professor de educação física. Por isso, propõe-se a práxis social como articuladora dessa unidade teórico-prática, constituindo assim uma prática coerente, transformadora e sólida para nossa ação pedagógica enquanto professores/as de Educação Física;

 

5

Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão: nossos currículos oferecem uma formação em Educação Física onde o ensino, a pesquisa e a extensão estão distantes entre si e muitas vezes desarticulados, o que descaracteriza o tripé básico do ensino superior público e fragmenta a produção do conhecimento. Por isso, o ensino, a pesquisa e a extensão dentro do projeto de Licenciatura Ampliada estão interligados, de forma que a construção do conhecimento, desde o início do curso, não se fragmente entre trabalho manual e intelectual possibilitando que essa produção sirva para as reais necessidades da população no que diz respeito ao plano da cultura corporal;  

 

  6

Articulação do conhecimento: o que podemos constatar é que nossas disciplinas são dadas de forma desarticulada. Repetem-se conteúdos, incham-se os currículos e não conseguimos relacionar o que aprendemos em sala de aula com nossa prática. Por isso, o nosso projeto de formação propõe a organização do conhecimento por complexos temáticos, os quais balizarão as disciplinas e farão com que os conhecimentos se articulem a partir de um eixo que caracteriza a área, que no nosso caso é a prática pedagógica, possibilitando, portanto, uma real visão crítica da realidade e uma apropriação dos conteúdos consistente, consolidando assim uma prática pedagógica sólida no dia-a-dia.

 

  7

Avaliação: a função da avaliação é identificar se os objetivos do projeto político pedagógico do curso estão sendo alcançados. Assim, a Licenciatura Ampliada traz uma forma de avaliação ampla e permanente, no intuito de identificar se erros estão sendo cometidos e a partir disso poder superá-los. Essa avaliação se dá em todas as instâncias do processo, com estudantes, professores, gestão, planos, projetos, instituição e etc.

 

8

Formação Continuada: vemos que no projeto educacional brasileiro temos a cada nível de ensino um processo de peneira, que limita dia-a-dia o acesso a produção do conhecimento. Por isso, uma formação consistente de professores para Educação Física tem que estar elencada a programas de formação continuada, como especialização, mestrado, doutorado, cursos de aprofundamento, etc. para que consigamos avançar na produção e consolidação da área enquanto necessária para o desenvolvimento da identidade cultural brasileira.

 

9

Prática pedagógica como caracterizadora da área: A área da Educação Física se diferencia das outras no que se refere ao trato com o conhecimento na atuação.  Quem se forma em educação Física, não importa onde for atuar, media pedagogicamente os conhecimentos da área com seus alunos. É uma relação entre seres humanos e por isso a necessidade de termos em nosso currículo a prática pedagógica como articuladora dos conhecimentos da área. A proposta de Licenciatura Ampliada traz esse princípio, tendo essas disciplinas no corpo comum e obrigatório da formação causando o caráter pedagógico para a área.

 

10

Projeto alternativo de universidade: a proposta de Licenciatura Ampliada traz em si outra concepção de formação, de homem, de mundo e conseqüentemente de universidade. Esta visão de universidade vem pautada em horizontes tais como: democratização da instituição, auto organização dos segmentos, indissociabilidade entre ensino/pesquisa/extensão, produção do conhecimento socialmente útil, formação continuada, dentre vários.

 

Por isso chamamos a todo estudantes de Educação Física a se somarem a luta pela revogação das atuais diretrizes curriculares e levantarem essa bandeira :

“EDUCAÇÃO FÍSICA É UMA SÓ! FORMAÇÃO UNIFICADA JÁ!”